Eu nunca compreendi de verdade porque esse blog se chama FILHA DA ALVORADA. Eu achei que era um nome bonito e que fazia alusão ao Salat Fajr, que é a primeira oração do dia, e a oração da Alvorada.
Mas agora eu enxergo muito além, e percebi que esse blog só existe hoje porque, uma vez, uma única vez em toda a minha vida, eu me cansei da Noite Escura, tive coragem de encarar a minha repulsa à Luz e, então, eu simplesmente esperei a noite terminar e, pela primeira vez na vida, eu me deixei banhar pelos primeiros raios do Sol, e vi a Alvorada nascer...
Desde então, eu nunca mais voltei para a escuridão...
Isso é algo muito mais verdadeiro e profundo que as palavras podem agora expressar. Porque eu fui uma Filha da Lua Negra, eu era sim uma criatura da noite profunda, das sombras! Eu me sentia confortável quando estava envolta no véu negro da Noite, e eu realmente sentia repulsa pela Luz.
Tal qual uma verdadeira vampira, eu me movia por entre vielas escuras e envoltas em brumas, eu me perdia contemplando o mundo do alto dos abismos mergulhados no mistério e na escuridão, eu sempre vaguei por recantos elísios e sem começo nem fim, sem pé nem cabeça, onde você não sabe se há uma festa ou um velório, e nem quando começa ou quando acaba. A balança balançando sozinha ao sabor do vento, o lençol que voa descontrolado e solto em uma tempestade, roubado do varal em meio ao vento, perdido, sem saber onde é o chão, onde é o céu, onde é o mar, e muito menos quando termina o voo e onde vai pousar.
Não falo aqui da vida mundana e muito menos das coisas físicas, mas sim de sentimentos e das coisas do ar. Sim, como todo mundo eu cometi meus desvios, nada muito grave, e se eles fossem graves eu não teria nenhum motivo para não os confessar, já que para tudo isso eu tive mesmo de ter uma imensa CORAGEM! Não nego os caminhos por onde caminhei, e muito menos as vidas que eu vivi, mas um dia, uma única vez, uma única chance na vida, em uma única ocasião, eu me perguntei o que havia depois do fim da noite, depois do nascer do sol, o que havia no meio daquela Luz que nascia lá bem longe de mim, no horizonte... e foi assim que eu, morcega criatura da noite, vampira escondida em recantos escuros, resolvi enfrentar o começo da Luz, e tive uma coragem imensa para ver o Sol raiar.
Desde então eu caminho durante o dia e finalmente me sinto aquecida, confortável e protegida quando estou imersa na Luz da Vida, quando o Sol me toca e me faz sorrir, e respirar. Não posso mudar a minha natureza, mas agora eu voo seguindo a Luz.
Isto não aconteceu por causa do Islam! Não! Não mesmo! Isso foi antes, porque isso aconteceu em minha alma, muito antes daquele momento também único em que, sem nenhum motivo profundo e, por mero acaso, eu resolvi ler o Qu’ran.
Aí sim, eu estava preparada! Se eu não tivesse ousado ver a Alvorada nascer antes, eu não estaria pronta para o Qu’ran, eu não estaria pronta para, mais uma vez, ver a minha vida mudar. E eu agradeço a Allah, Subhana Wa Ta’ala, por isso, por tudo! Agradeço porque eu hoje percebo que realmente Ele, e somente Ele, me resgatou, me curou, me preparou, e então, quando eu estava pronta, me encaminhou ao Islam...
Você pode entender e sentir a profundidade disto? Você pode sentir? Você já sentiu dor na vida? Não a dor do corte, da fratura, da doença física, mas a dor de fato, a Grande Dor, a Dor Profunda? Você já caminhou na escuridão, e já teve de morrer várias vezes na mesma vida para só depois disso poder voar?
Agora eu encontrei o verdadeiro motivo pelo qual esse blog se chama FILHA DA ALVORADA! Porque, de fato, eu sou a filha mais nova e mais pequena de uma Alvorada mágica que um dia apareceu no horizonte, e mudou tudo, para sempre, Alhamdulillah...
Eu precisava escrever sobre isso, para eu mesma!
Salam