Quando eu resolvi escrever este post eu não sabia que imagem colocar para ilustrar ele, então eu não encontrei nenhuma outra imagem mais apropriada do que este símbolo que representa hoje em dia o FEMINISMO ISLÂMICO, mas talvez eu fale de muitas coisas aqui.
E talvez eu volte a utilizar ele novamente em seguida, de acordo com o que eu penso e com a minha constante busca da coerência e transparência em minha vida e em meu comportamento.
Eu demorei muito tempo para escrever também este post porque estive quieta observando e assistindo ao desenrolar de tudo que aconteceu neste intenso e, ao menos para mim, inesquecível mês de abril de 2013.
Acho que vou começar fazendo um
RESUMO DOS ACONTECIMENTOS...
Tudo começou no dia 04 de abril de 2013. Neste dia, fui pega de surpresa ao receber a notícia de que a Mesquita do Brás estava sendo o palco de uma manifestação ofensiva praticada pelo grupo Femen Brasil e com a mesma surpresa eu constatei que a agressão era mundial, deflagrada pelo Femen Mundial através de sua sede na Ucrânia contra várias mesquitas ao redor do planeta.
Sentindo-me ofendida, ultrajada e desrespeitada, fui à luta e publiquei no mesmo dia a minha opinião em diversos lugares da internet: meus dois blogs, meus dois perfis no Facebook, diversas páginas feministas e a própria página do Femen Brasil.
Foi aí que eu descobri que muitas muçulmanas no mundo todo tomaram a mesma atitude, e isto deu origem a um movimento mundial intitulado Muslim Women Against Femen. Uma página oficial do movimento foi aberta no Facebook e esta página cresceu de forma impressionante. Ao mesmo tempo, depois de expressar a minha opinião de forma clara na página do grupo aqui no Brasil, eu fui expulsa e bloqueada da página delas enquanto outras irmãs começavam a mesma campanha que eu estava promovendo.
Como resultado disto, aconteceu a nossa manifestação em resposta no dia 20 de abril, e o resultado foi muito além de nossas expectativas, pois a imprensa noticiou a manifestação e eu mesma acabei dando muitas entrevistas, o que nos proporcionou a possibilidade de falarmos, como sempre fizemos, e finalmente sermos ouvidas.
OS FRUTOS DO MÊS DE ABRIL DE 2013...
Eu espero e peço a Allah que o mês de abril de 2013 não seja inesquecível apenas para mim, e que seja de fato um marco.
Porque a partir dos acontecimentos deste mês, muitas coisas aconteceram. Acho que a primeira coisa digna de nota é que de repente, como reação à agressão promovida pelo Femen, todas as mulheres muçulmanas começaram a expressar a sua opinião e eu constatei com grata surpresa que milhares de muçulmanas que nunca se conheceram antes estavam se expressando de uma maneira equivalente, e talvez isto tenha pego a opinião pública de surpresa. Uma opinião pública invariavelmente dominada e direcionada para um só tipo de pensamento errado e estereotipado sobre nós, que até então não havia percebido que estava sendo enganada, eu percebo que isto deixou muitas pessoas aqui no Brasil e ao redor do mundo sem saber o que fazer, e isto foi bom, porque na verdade nós mulheres muçulmanas estamos falando a muito tempo sem sermos ouvidas.
O segundo resultado digno de nota é a união e o poder de mobilização que surgiu a partir deste fato. Digno de nota também é o recado claro que passamos para todos: NINGUÉM FALA POR NÓS! NÓS MULHERES MUÇULMANAS FALAMOS POR NÓS! E NINGUÉM TEM O DIREITO DE DESQUALIFICAR A NOSSA PRÓPRIA VOZ E NOS OPRIMIR FALANDO EM NOSSO NOME À FORÇA, que é o que vem acontecendo a muito tempo como resultado do estereótipo canalha mentiroso e tendencioso divulgado em especial pela mídia do ocidente que encontra muita utilidade em seus propósitos ao nos vitimizar como vampiros exibindo as suas vítimas.
Espero que esta lição, para todos e para nós mulheres muçulmanas, não seja esquecida, e que esta força não se dissipe e seja perdida, este foi o momento de exigirmos RESPEITO, e eu penso que até agora temos aproveitado muito bem, e quem ainda não entendeu, me desculpe mas é por egoísmo (ou seja, precisa que desempenhemos um papel marcado em suas próprias crenças), ou por pura ignorância e falta de capacidade de reflexão e cognição.
Digno de nota também é o fato de que isto me aproximou de coletivos e ativistas feministas no Brasil, e com isto eu tive a oportunidade de começar a contribuir para algo que era necessário e desejado por nós a muito tempo: a construção de uma ponte entre o feminismo global e nós mulheres muçulmanas. Eu fiz, e estou fazendo a minha parte, solidificando este diálogo em nome da união e da construção de um ativismo verdadeiramente pro-ativo entre nós mulheres, porque precisamos disto, porque é preciso que haja a construção do conhecimento para que exista a união e o fortalecimento, porque ao longo do tempo eu tenho visto o feminismo falhar de forma assustadoramente gigantesca em relação a nós mulheres muçulmanas simplesmente pela total falta de conhecimento sobre o Islam, e sobre nós.
Enquanto isto...
Uma verdadeira crise se instalava no Femen, não só a nível mundial mas em especial entre a filial brasileira e a sede Ucraniana.
Do lado de cá, diante de nossa reação e mobilização, e através também do diálogo com algumas pessoas que acabaram tendo contato pessoal com os dois lados da contenda, no dia 16 de abril o Femen Brasil divulgou uma carta aberta pedindo desculpas a nós pela manifestação do dia 04.
Diz a carta:
O FEMEN Brazil quer se
desculpar à todos aqueles que se ofenderam com nossa ação em frente a Mesquita
do Brás, no dia 4 de Abril.
Nós estamos trabalhando na melhor forma de
passar uma mensagem clara e simples para nossa população e reconhecemos que
esta, infelizmente falhou.
Nossa intenção não era ridicularizar e nem
satirizar uma crença, mas sim, pedir a liberdade e independência de uma de
nossas ativistas que reside na Tunísia.
Amina, 19, desapareceu alguns dias após postar uma foto sua de topless nas redes sociais, para
apoiar o FEMEN Internacional na sua luta contra as atrocidades cometidas por
extremistas religiosas contra as mulheres no mundo islâmico.
Vários boatos foram espalhados após o
desaparecimento de Amina, inclusive o de uma suposta condenação de morte ou de
chibatadas nas costas. Ainda sim, nós sentimos uma grande falta de
transparência em toda essa história, e como um movimento sério, não podemos nos
basear em rumores para tomadas de decisão, e admitimos, com honestidade nosso
erro.
Abandonamos a causa "Free Amina", pois
não conseguimos contato com a ativista, familiares ou amigos para receber
informações verdadeiras.
Nós, do FEMEN Brazil respeitamos o direito e a
escolha de cada mulher de usar o que bem entender como vestimenta e de cultuar
sua própria religião.
Entendemos que o feminismo deve respeitar a escolha
das mulheres assim como a pluralidade religiosa.
No dia 19 de abril de 2013, o mesmo grupo divulgou mais um comunicado no qual noticiava a sua desvinculação do Femen Ucrânia. NOTEM BEM, isto foi veiculado na página do grupo no dia 19 de abril, portanto a mais de 01 MÊS atrás.
O FEMEN Brazil não se
responsabiliza mais por protestos, ações, manifestos, publicações, falas e
decisões feitos e tomadas pelo FEMEN Internacional.
Isso significa que toda e qualquer decisão
tomada por qualquer escritório do FEMEN que não seja brasileiro, não compete a
nós, do FEMEN Brazil a responsabilidade.
Nós do FEMEN Brazil, somos totalmente
independentes do FEMEN Internacional com relações a tomadas de decisão de
protesto, ideias,inclusive financeiramente. O FEMEN Brazil não recebe dinheiro do FEMEN
Internacional, assim como nenhuma ativista ou organizador, até mesmo a
fundadora do movimento no Brasil, Sara Winter, não se beneficia mais da ajuda
de custo mensal.
Por enquanto o FEMEN Brazil é um movimento auto
financiado com vendas de camisetas e coroas de flores, assim como uma
colaboração mensal e simbólica dos membros que podem escolher entre 10 e 20
reais para doação.
Nós do FEMEN Brazil acreditamos na ideologia do
Sextremismo e do Neo feminismo. Acreditamos que essa seja a melhor maneira de
fazer com que as pessoas simples entendam as ideias do feminismo e se acostumem
e aceitem através do choque, surpresa, as ideias que propomos através dos
conceitos escritos em nosso corpo, de liberdade, empoderamento e independência.
Todavia, descordamos de algumas atitudes tomadas pelo FEMEN Internacional nos
últimos tempos e por isso, tomamos a decisão de esclarecer que nosso território
é a America Latina, assim como nossa responsabilidade são os problemas aqui
locais.
A partir desta data, nós do FEMEN Brazil, apenas
realizaremos protestos coletivos com os outros escritórios, se realmente
acreditarmos na causa e nas circunstâncias das situações promovidas.
Para questionamentos sobre decisões de outros
escritórios, nós sugerimos que vocês os direcione ao respectivo país: FEMEN
France, FEMEN Germany, FEMEN Ukraine, tem suas próprias representantes, demais
páginas podem ser direcionadas para o FEMEN Ukraine.
E finalmente, no dia 21 de maio, o Femen Brasil divulgou uma nota comunicando o encerramento do grupo com o nome de Femen, diz o comunicado:
Como um grupo, decidimos permanecer unidos após os últimos acontecimentos.
Entendemos que nossas ideologias são muito diferentes do grupo ucraniano, mas
iguais entre nós, do Brasil. Não tínhamos ideia sobre o que realmente acontecia
"por trás da cortina".
Acreditávamos que o Femen era um movimento do bem. Um movimento que poderia
crescer no feminismo, que poderia melhorar com a nossa ajuda. Todos nós
pensávamos que, além do marketing, o Femen tratava-se de um movimento
feminista, que levava igualdade para os quatro cantos do mundo. Até porque foi
nessa honestidade que a gente trabalhou aqui no Brasil. Em hipótese alguma
usamos métodos que segregassem pessoas, sejam como elas fossem! Azuis, marrons,
laranjas, triangulares ou quadradas... nunca houve classificação de pessoas por
nós do Brasil.
Entendemos e apoiamos as ações da ativista Sara Winter. Compreendemos que os
erros foram cometidos na esperança de fazer o certo. Na esperança de poder
cumprir com seu trabalho social. Afirmamos que Sara Winter nunca agiu de má fé.
Sara Winter nunca usou sua influência ou apelos para conseguir dinheiro de nós.
Todos os protestos foram realizados, se não com ajuda do Femen, com a nossa
própria ajuda, pois acreditávamos na causa. Nunca nenhum dinheiro destinado ao
ativismo foi desviado para fins pessoais. Nossas decisões eram tomadas
horizontalmente por todos os membros da equipe, ativistas e colaboradores por
meio de votação e opinião.
Enxergamos somente agora que o movimento Femen trata-se de uma empresa que
quando percebe que seus lucros estão ameaçados, não vê problemas em cortar quem
atrapalha.
Nós do Brasil, não compartilhamos as mesmas ideias segregatórias do Femen.
Entendemos cada ser humano como único e especial e aceitamos todas as
diferenças. E, por não querer nos aliar a outro ditador (tudo o que a gente
sempre lutou contra), dizemos que NÃO IREMOS REPRESENTAR O FEMEN NO
BRASIL!
O Femen pretende reinstalar-se no país e seguir com seu trabalho. Podemos
afirmar que elas desejam os holofotes da Copa das Confederações e da Copa do
Mundo. Não há preocupação da parte do Femen por questões sociais ou em conhecer
nossa cultura, nosso povo e nossos problemas e nem mesmo respeitá-los
individualmente.
Dizemos também que lutaremos contra o Femen! E vamos resistir. Não queremos um
falso movimento feminista, controlado por ditadoras no nosso país.
Nós queremos nos desculpar com todos os coletivos feministas, movimentos
sociais e pessoas que ofendemos com nossas ações, protestos e equívocos. Nossa
intenção realmente era poder espalhar de maneira universal e local as ideias do
feminismo através do compartilhamento de informação em assa que a mídia
produz.
Também repudiamos o Femen por descreditarem todo o esforço das ativistas
brasileiras. Todos nós entramos de cabeça nessa ideia com as melhores intenções
e demos nosso máximo pelo movimento e sua propagação. Corremos grandes riscos
para poder espalhar as ideias do Femen no Brasil, perdemos grandes
oportunidades de futuro por conta da ficha criminal, entre outras coisas, logo
gostaríamos de salientar aqui que nossa intenção foi pura e verdadeira de lutar
por uma causa.
Pretendemos criar um novo movimento. Um movimento focado em pessoas. Um
movimento horizontal, transparente e verdadeiro, que acolha e respeite as
diferenças. Se, outrora não tínhamos autonomia para tomar decisões, hoje temos
e damos o nosso grito de independência! Declaramos guerra contra qualquer
coletivo ou movimento que prejudique ou engane pessoas.
Nós nos desculpamos com todos aqueles que acreditaram em nós e gostaríamos de
pedir para que não desacreditem. Nossas intenções são as melhores, são de luta
e de mudanças sociais.
O conteúdo desta página será totalmente excluído em 48 horas e a página será
desativada temporariamente até que um novo movimento surja de maneira coerente,
honesta e justa.
Obriagadx à todos, seguimos firme, fortes e juntxs!
Assinam essa carta: Amanda ReginART, Bruno Liziero, Claudio Magu, Sara Winter,
Ana Clara Rodrigues, Verônica Cavatti, Anna Steel, Rarhy Joyce, Caroline
Durans.
E agora, eu vou fazer algo que quem me conhece, ou ao menos já percebeu como eu me comporto, vai entender, mas quem não se atentou para isto vai pensar que estou sendo contraditória...
FINALMENTE EU VENHO AQUI NESTE POST PARA SAIR EM DEFESA DESTE GRUPO!
Como assim? Sim, venho aqui defender este grupo que foi o Femen Brasil!
Não, eu não mudei de idéia quanto ao Femen. Pessoalmente acho o Femen hipócrita, preconceituoso, islamofóbico, racista, uma expressão condensada de tudo de pior que pode existir em um ser humano, o resultado atual de todas as ideologias de exclusão, de todas as idéias etnocentristas e intolerantes, de tudo de ruim que já aconteceu na história moderna. Acho também o Femen obscuro, com financiamentos obscuros, e com intenções marcadas.
Eu não mudei, mas este grupo aqui no Brasil mudou. Mudou sim, porque talvez estejam agora construindo um verdadeiro conhecimento que antes não possuiam, porque assumiram os seus erros e é preciso CORAGEM para isto, porque souberam admitir que erraram.
A partir do momento em que o Femen Brasil anunciou a sua desvinculação do Femen Ucrânia, conforme escrevi no meu perfil pessoal no Facebook, uma chuva de aplausos e vaias caiu sobre o grupo como tempestade.
Eu, que as combati de frente, contestei o ato de agressão à Mesquita do Brás em conjunto com a agressão a mesquitas do mundo todo, e que desde então acompanho o desenrolar dos fatos, agora escrevo EM DEFESA DAS MENINAS E DOS INTEGRANTES DESTE GRUPO!
Porque humildemente procuro sempre pela JUSTIÇA, pela VERDADE, pela COMPREENSÃO, e pelo acolhimento a todos!!!
É MENTIRA que o Femen Brasil rompeu só agora com o Femen Ucrânia. Conforme reproduzi acima, a carta do Femen Brasil comunicando este rompimento data de 19 DE ABRIL DE 2013, portanto mais de um mês antes do Femen Ucrânia reagir publicamente.
É MENTIRA que o Femen Brazil fez isto só agora como reação ao rompimento anunciado pelo Femen Ucrânia. AO CONTRÁRIO, O COMUNICADO DO FEMEN UCRÂNIA é que foi uma reação ao comunicado bem anterior do Femen Brazil.
Se o grupo reconheceu o erro cometido com a agressão à Mesquita do Brás, e reconheceu que errou ao opinar e agir sem conhecer de fato o Islam e nós MULHERES MUÇULMANAS, a atitude deles merece nada mais do que APLAUSOS, ACOLHIMENTO E COMPREENSÃO.
JUSTIÇA é algo que só existe QUANDO EXISTE PARA TODOS SEM DISTINÇÃO.
E todo ser humano ou grupo tem o direito À CONTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E À MUDANÇA DE COMPORTAMENTO E PENSAMENTO DECORRENTE DISTO!
Todos mudam, e isto é natural e digno de compreensão e acolhimento.
O reconhecimento do erro e a busca pela mudança para melhor é um ato de CORAGEM, e a prática da VERDADE, e merece apoio, compreensão e elogios, não críticas.
E finalmente, eu não estou aqui para BRIGAR, para ser IRRACIONAL, para ser RADICAL.
Eu respondi à altura com críticas duras e contundentes contra a atitude do grupo, e reafirmo todas as minhas críticas, porque nós mulheres muçulmanas fomos AGREDIDAS, OFENDIDAS E DIMINUÍDAS pela agressão do ato.
Mas, acima de tudo, eu sempre procurei e sempre vou procurar o DIÁLOGO, e a UNIÃO. Se o grupo ENTENDEU que errou, e errou feio mesmo, e com isto se desenvolveu no sentido de não repetir o erro e construir algo novo, então não tenho mais críticas novas além das que já fiz, e defendo sim!
Esta é a minha opinião... e eu tenho certeza de que acima de tudo, estou agindo de forma correta dentro do meu modo de vida, O ISLAM, tá bom?
Porque antes de qualquer coisa na minha vida, eu sou uma muçulmana...
Salam