Eis que volto a escrever em negro, em luto, e sobre a escuridão.
Mais uma rosa arrancada á força do jardim da vida, mais uma rosa despedaçada, eu assisto à notícia sentada em meu sofá, filtrada pela luz fria e azulada da tela da televisão.
Mais uma de centenas de rosas despedaçadas todos os dias, de milhares de rosas pisadas e esmagadas por todos os cantos deste país.
Esta, assim como tantas, diz a notícia, foi vítima de doentio ciúme, cuja desculpa na boca de seu algoz seja provavelmente a palavra "amor", mas que amor é este que pede a destruição? Que pede posse? Que faz o olhar ver apenas um objeto de desejo em vez de uma vida, de um ser humano, de uma história já vivida e muita história ainda por viver, cortada, sufocada, arrancada, interrompida...
Isto não é amor, isto é egoísmo!
Maria de Fátima foi jogada no lixo, devidamente embalada e misturada a outras sacolas cheias de coisas que já não servem mais, ao lado de dejetos, de objetos que já perderam a razão de sua existência, um claro sinal da visão de seu assassino, porque já que não mais o serve, não serve então para nada, deve ser descartada, jogada no lixo e dispensada, não há nesta relação nada que demonstrasse vida, apenas um objeto já usado, gasto, destruído depois do uso, e dispensado.
Maria de Fátima é uma só, das inúmeras rosas colhidas do canteiro da vida antes do tempo, e há uma verdadeira colheita lá fora, todos os dias, em todos os cantos, estou cansada de ver notícias assim!
Até quando? Até quando seremos forçadas a ver mulheres massacradas deste jeito? Até quando teremos de temer pela vida de amigas, de mães, de filhas, de nós mesmas? Até quando?
Até quando seremos agredidas pela triste realidade que mostra que assassinos, estupradores, torturadores, algozes covardes de todos os tipos nunca são devidamente punidos, e com isto recebem alvará oficial para seus atos abomináveis?
Maria de Fátima entra para uma longa fila, que tem entre seus nomes, figuras nacionalmente conhecidas, é certo, mas que em grande parte, na sua maioria, é composta de rostos e nomes anônimos, histórias nunca antes escritas, dramas nunca descritos e desconhecidos.
E seu algoz entra também para uma longa fila, a fila dos agressores, que em sua grande maioria é composta de pessoas livres, de sua pena, de sua culpa, que livres estão por ái, prontos para despedaçar mais uma rosa, para eles não custa nada, afinal já não fizeram uma vez? E não estão livres para escrever com o sangue covardemente derramado, mais páginas de uma triste história de um país?
Mais uma rosa despedaçada, para outras rosas cujas pétalas foram também arrancadas à força, e tiveram de sentir a dor que sentiram como eu, vem à boca um gosto amargo... um gosto insuportável de injustiça, mas eu estou viva, não sei até hoje porque, penso nas outras rosas apodrecidas e derramadas, e me sinto assim novamente despedaçada, eu sei o que elas sentiram, eu também já senti...
Assim somos nós brasileiras, rosas despedaçadas...
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