terça-feira, 27 de setembro de 2011

Munaqaba - O que é, porque é, e como eu me tornei uma...

Este é um post do tipo "dois em um"... ou talvez "três em um" então pode ser que ele fique extenso, vou tentar condensar ao máximo para tornar a leitura agradável.

Mas vamos lá! Yalla bina!!

Eu sempre gosto de lembrar aqui que, quando eu escrevo, estou escrevendo para todos, mas penso principalmente nas pessoas que não são muçulmanas, e também naquelas que estão conhecendo o Islam agora.

O meu blog tem duas funções principais:

01) Dawah;

02) Tentar traduzir em palavras a minha alma, a minha vivência, o que eu sinto e o que eu vivencio.

Neste sentido a linguagem aqui é a linguagem do sentimento e da vivência da vida, eu vivencio a condição de ser uma mulher dedicada a uma religião, a condição de ser uma muçulmana, a condição de ser uma munaqaba. Eu amo a Allah, amo o Islam, amo a vida, e a vivência + o que eu sinto são as matérias primas que eu uso para criar, e divulgar.

Eu sempre estou falando sobre o fato de eu ser uma munaqaba, e que eu tenho orgulho de ser uma munaqaba, e munaqaba isto, munaqaba aquilo, e vira e mexe alguém me pergunta "Mas Gisele, o que é uma munaqaba?"

Então vamos já logo de início responder:

MUNAQABA, é a muçulmana que usa niqab.

E NIQAB, é o véu que cobre o rosto.

Em algumas regiões e em alguns lugares, nós somos chamadas também de NIQABI, mas em resumo é isto, somos muçulmanas, e usamos niqab, o véu de rosto.

Outra pergunta que eu ouço muito é: "Mas tem diferença entre você e uma muçulmana que só usa o "lenço" na cabeça, por exemplo?"

Não, não tem. Não há "hierarquia" relacionada ao uso ou não do niqab, não sou nada a mais do que outras irmãs que não usam niqab, e muitas vezes sou é menos em termos de conhecimento, porque eu sou apenas uma aprendiz, e muitas irmãs sábias e experientes optaram por não usar niqab. Então somos todas iguais, não há nada como grau de sabedoria ou algo assim relacionado ao niqab.




E cores? Porque tem de ser sempre preto?

É... na verdade não tem de ser preto, na verdade nem sempre é preto, basta ver a foto aí em cima, o niqab é branco.

Existem niqabs de diversas cores, e estilos, existem niqabs que cobrem a face e são totalmente bordados, existem niqabs que apenas cobrem a boca, outros cobrem tudo integralmente, e isto é questão de escolha pessoal.

Niqab bordado em tecido rígido usado por mulheres de algumas tribos do interior do Iran

Eu uso preto. Muitas munaqabat (plural de munaqaba) usam preto, por escolha pessoal, por modéstia, por n razões diferentes, mas o preto não é obrigatório.

E o niqab é apenas o véu do rosto, ele não cobre o corpo todo. Geralmente usamos o niqab com abayas (vestido islâmico comprido de mangas compridas), ou com chador, também conhecido como isdal (este sim, uma vestimenta como um véu que cobre da cabeça aos pés), e este conjunto pode ou não ser complementado pelo khimar (seria como um hijab, o tal "lenço" de cabeça mais usado, porém muito mais comprido cobrindo em geral o tronco todo).

E não usamos niqab dentro de casa, só se estivermos recebendo visitas, e entre as visitas estiverem homens que não sejam parentes. Se eu estou na mesquita, no setor reservado a nós mulheres, eu tiro o niqab, se estou em minha casa só com parentes ou só com mulheres, eu não uso niqab nem chador nem nada disto. Só uso na presença de homens estranhos.

O meu noivo me vê sem niqab, ele é o único homem que não é meu parente e me vê sem niqab. Mas ele verá os meus cabelos e o meu corpo apenas depois de se tornar o meu marido. Em algumas regiões é comum o noivo ver os cabelos da noiva também, mas isto não é uma constante.


Eu já publiquei esta foto aqui no meu blog, eu gosto muito dela, é o tipo de chador que eu uso, combinado com o niqab

Agora, a grande questão mais popular de todas: "Nooossaaaa!!!! Você usa burca!!!"

Rs... eu ouço muito isto por aí, as vezes até de forma positiva, teve um dia que um motoqueiro que fazia entregas na minha rua parou a moto e me disse todo feliz "É a primeira vez na minha vida que eu vejo uma mulher de burca!". E ele estava tão felizinho que eu apenas compreendi e acenei para ele, ele foi embora todo contente.

Mas eu não uso burca, ou burqa... Burqa é outra coisa, um tipo de véu inteiriço encimado por uma espécie de touca ou taquia, com redinha cobrindo os olhos e sem espaço para as mãos, geralmente. Munaqabat usam niqab, não burqa, sim? Que fique bem claro, e na verdade eu acho que o uso da burqa é de fato muito restrito ao Afeganistão, pelo que eu observo. Em geral mulheres afegãs apenas usam burqa.


Isto sim é burqa. Como vocês podem ver, é diferente do que uma munaqaba usa

Bem, digo tudo isto, vamos agora entrar no campo da polêmica geral!

Muitas pessoas me perguntam se eu sou obrigada a usar, se muçulmanas são obrigadas a usar o niqab. Esta é uma pergunta com uma resposta muito complicada! Porque a questão é polêmica mesmo dentro da comunidade Islâmica, e mesmo entre os Sheikhs e sábios do Islam.

As respostas são variadas, vão desde quem defende que niqab não é islâmico até quem defende que o uso é sim obrigatório segundo o Alcorão e a Sunnah.

Eu pessoalmente escolhi com muita alegria em meu coração usar o niqab, então para mim não importa muito esta discussão porque de um jeito ou de outro, eu escolhi usar, eu uso, e eu vou usar para sempre.

E a minha opinião pessoal é que não cabe a nós muçulmanos a interpretação e decisão sobre esta questão, e sim aos estudiosos habilitados para isto, os Sheikhs e os sábios que estudam durante anos para poder dar decisões e emitir fatwa com base na interpretação fundamentada do Alcorão, e dos ahadith da Sunnah. Deste modo eu acho totalmente errado alguém afirmar com todas as letras que o niqab é sim obrigatório e ponto, da mesma maneira que eu acho um absurdo total alguém afirmar que o niqab não é islâmico, ora se os sábios e estudiosos não têm um consenso sobre isto, quem somos nós para decidir sobre a questão?

Agora eu vou colocar aqui um link de uma matéria, mas esta matéria defende a visão de que o niqab é obrigatório, baseada em interpretações seguras. Eu acho que pode-se opinar com base em fatwa e opiniões de quem deve fazer isto, os sábios, pela obrigatoriedade ou não, mas cito esta matéria apenas como exemplo de como a questão é mesmo polêmica, voltando a ressaltar que no meu caso não há muita importância porque eu escolhi e não vou parar de usar o niqab. Trata-se de um excelente texto do site RELIGIÃO DE DEUS - A VOZ MUÇULMANA NA INTERNET. Vale a pena ler este texto e conhecer este ótimo site:

Porque eu uso niqab? Porque eu concordo com o que foi explanado neste texto.

Porque é a minha escolha e a minha forma de expressar a minha modéstia.

Porque é a minha forma de mostrar a minha submissão e entrega total a Allah.

Porque é a minha marca como uma muçulmana, porque para mim é lembrança constante da vida que eu escolhi, uma vida totalmente islâmica, porque para mim traz a lembrança constante de Allah em tudo o que eu faço, em todos os lugares que eu estou.

Estas são as minhas razões pessoais, e eu sinto orgulho, e alegria constante, por ter conseguido atingir o meu objetivo de ser de fato uma munaqaba.
E como eu me tornei uma munaqaba?

Bem, foi assim... Eu sempre fui fascinada pelo uso das roupas islâmicas. Mas eu nunca imaginei que um dia eu seria uma muçulmana de rosto coberto.

Conforme eu já contei em alguns posts recentes sobre a minha reversão, eu me reverti ao Islam em 19 de outubro do ano passado e durante algum tempo eu permaneci sozinha adaptando a minha vida até que a Halima entrou em contato comigo e se ofereceu para me apresentar a Mesquita do Pari. E acontece que ela é uma munaqaba e isto sempre me fez ficar fascinada pelo blog que ela tinha. Eu mergulhava em leituras que me faziam viajar para outros lugares no blog dela, antes de me reverter ao Islam e ter ela como minha amiga, mas quando nós nos conhecemos ela havia acabado de voltar do Oriente Médio, onde residiu por algum tempo com o marido dela, e ela não estava usando niqab aqui no Brasil, em parte por receio de usar por aqui, em parte porque nós munaqabat somos de fato raras até hoje no Brasil.

Mas ela tinha vontade de voltar a usar, e eu sempre disse a ela que se ela precisasse de companhia para sair de niqab, poderia contar comigo.

Um dia, ela me fez uma proposta: visitarmos a exposição ISLAM - ARTE E CIVILIZAÇÃO, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro de São Paulo, de niqab e chador!

Eu topei na hora, e este dia foi o primeiro dia em que eu usei niqab na minha vida!

E o fato é que eu gostei muito da experiência. Foi como se eu tivesse nascido para ser uma munaqaba, me senti especialmente confortável e à vontade com o chador e o niqab, e decidimos repetir esta experiência e fazer outros passeios de niqab.



Assim fizemos, e eu acabei por encomendar um niqab com a Iqbal, nossa irmã querida que vende hijabs e faz roupas sob encomenda lá na Mesquita do Pari.

Eu disse para eu mesma "No dia em que eu atravessar a porta da minha casa de niqab, eu nunca mais vou parar de usar." E foi o que eu fiz! Eu recebi o meu niqab na mesquita, lá mesmo o coloquei, e nunca mais parei de usar. Alhamdulillah!

Eu sei que aqui no Brasil, pelo fato de sermos raras, e pelo fato do Islam ainda estar crescendo por aqui, a minha presença é sempre marcante sim por onde eu passo, mas no meu caso pessoal, em geral as pessoas olham para mim com olhar de admiração, e simpatia, e além disso se interessam por falar comigo, em especial as crianças, eu agradeço a Allah por isso e sei que se isto acontece comigo é por obra e graça de Allah.

E além disso, volto a repetir uma lição que eu aprendi um dia: O MUNDO SEMPRE REAJE DE ACORDO COM A MANEIRA COMO VOCÊ AGE.

Salam!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mais dois vídeos da Dawah no Parque do Ibirapuera em São Paulo (SP) Brasil



Dawah no Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP) - Brasil - dia 07/09/2011.

Feriado do Dia da Independência, um lindo dia de sol, Parque o Ibirapuera lotado, e lá fomos nós fazer divulgação do Islam, e Allah nos abençoou com um lindo dia, entre irmãos e irmãs do Islam, e com muitas pessoas para nos ouvir! =)

Allahu Akbar!

Eu já postei um vídeo aqui no blog em um post anterior, agora seguem estes dois vídeos, espero que vocês gostem inshallah!










Bem, para quem ainda não sabe, eu sou a munaqaba que aparece nos vídeos (munaqaba = muçulmana que usa niqab - véu de rosto), tá bom?

Hoje a noite eu posto aqui mais um post falando de como eu me tornei uma munaqaba e de mais explicações sobre isto.

Salam!

MESQUITAS DO BRASIL - Mesquita de Santos (SP)

Hoje vamos conhecer, dentro da série MESQUITAS DO BRASIL, a linda Mesquita de Santos, e eu estou feliz porque consegui achar muitas informações e fotos sobre esta mesquita na internet, o que facilitou o meu trabalho alhamdulillah!

A Mesquita de Santos é a sede da Sociedade Beneficente Islâmica do Litoral Paulista, e se localiza na Av. Afonso Pena, 309 - bairro Macucos - Em Santos (SP) - e-mail: islamica@uol.com.br .

A Sociedade Beneficente Islâmica do Litoral Paulista foi fundada em 9 de novembro de 1977, tendo como primeiro presidente, um de seus principais organizadores, Ahmad Ismail Assaf.

Inicialmente a sede da Sociedade se localizava em São Vicente, mas porteriormente foi adquirido o terreno em Santos, na Av. Afonso Pena, e as obras de construção da Mesquita foram iniciadas no começo da década de 80, sendo inaugurada em 1983. Este era um dos principais objetivos da Sociedade Beneficente Islâmica do Litoral Paulista, e a Mesquita de Santos hoje em dia oferece aulas de religião e árabe, além de biblioteca e atuação constante em inúmeros trabalhos de cunho social e assistencial.

O revestimento externo da mesquita é todo executado em mármore branco, e internamente ela se caracteriza pelo design clean e claro aliado ao bonito e exclusivo efeitos de tijolos de barro aparentes revestido de verniz.

A porta de entrada da Mesquita de Santos

A Ala reservada das mulheres é em configuração de mezanino, muito prático e semelhante ao encontrado na minha mesquita, a Mesquita do Pari.


Fotos da área das mulheres na mesquita de Santos, em configuração de mezanino, muito semelhante à Mesquita do Pari, um arranjo prático, que nos garante privacidade, e muito bonito.

O seu mimbar é executado em madeira e se assemelha aos mimbar tradicionais encontrados em mesquitas do Oriente Médio e algumas mesquitas brasileiras como a Mesquita Brasil, porém no caso do mimbar da mesquita de Santos, ele apresenta também um design único e diferenciado, que evoca o rústico e ao mesmo tempo atual.


O mimbar da Mesquita de Santos

É interessante observar que até o desenho do projeto da mesquita foi possível de ser localizado desta vez, e mostra que o projeto foi seguido exatamente como o planejado, com exceção de poucos detalhes como a troca dos vitraís amplos por outros menores.

O projeto da Mesquita de Santos


O amplo salão de orações da mesquita, mostrando o mishrab e o mimbar 


foto da fachada da mesquita, mostrando os seus imponentes minaretes

No Próximo post da série MESQUITAS DO BRASIL, vamos conhecer a Mesquita de São Miguel Paulista.

Algumas pessoas me perguntaram se eu vou falar apenas das mesquitas do estado de São Paulo. A resposta é: Não! Eu pretendo falar de todas as mesquitas do Brasil, já falei inclusive da Mesquita do Rio de Janeiro, a querida Masjid El Nur. Apenas segui uma ordem cronológica, falando primeiro da Mesquita dos Malês, em Salvador (BA) que não existe mais e é registrada como a primeira mesquita que teria sido construída no Brasil, e em seguida falei da Mesquita Brasil que é a mais antiga mesquita da América do Sul, e como já estava em São Paulo, continuei a série a partir daqui. Mas em breve estarei falando das outras mesquitas queridas de todas as cidades e estados do Brasil inshallah, são mais de 100 mesquitas espalhadas por todo o território nacional!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Halima

Então eu de dentro da noite escura vislumbrei um facho de luz e comecei a caminhar na direção dele.

A noite era fria, sem brilho sem cor, sem nada na imensa desolação cruel e mortal do Deserto dos Ventos Esquecidos...

Seguindo o facho de luz, eu cheguei a uma praia, e nela encontrei uma linda Alvorada, depois veio a luz, a paz, a cura! E a noite foi embora...

Depois da Alvorada, veio a minha Shahada.

E depois da Shahada, Allah colocou no meu caminho a amiga certa, na hora certa: Halima...

Eu estou escrevendo este post porque me pediram para falar mais sobre a minha Shahada, sobre a minha reversão ao Islam.

Eu estou escrevendo este post para dizer a todos que querem se reverter ao Islam que NÃO TENHAM MEDO, vocês não estarão sozinhos, nunca mais estarão sozinhos.

Eu estou escrevendo este post porque isto mostra que de fato não há melhor Protetor, não há melhor Provedor do que Allah, porque Ele tudo provê de melhor para a nossa vida, encaminha quem Ele quer encaminhar, e não nos abandona nunca no meio do caminho.

Eu estou escrevendo este post porque alguém extendeu a mão para mim, e nunca mais eu estive sozinha, e para sempre eu ganhei uma amiga que é muito mais do que uma irmã, uma verdadeira dádiva de Allah!

Então eu fiz a Shahada sozinha, e feliz da vida sozinha eu permaneci, mas e agora? Agora eu desejava começar a vivenciar de fato o Islam, aprender a fazer as orações diárias, ler novamente o Alcorão, passar a usar hijab e roupinhas apropriadas para uma muçulmana, mudar meus hábitos e o meu dia-a-dia, e finalmente poder frequentar uma mesquita, ter uma mesquita para frequentar!

Mesquita? Mas espera aí, eu não conhecia ninguém!!

Sim sim, eu me tornei muçulmana, e de fato já havia me comunicado via mail com algumas poucas irmãs, pedindo ajuda com minhas dúvidas, mas eu não conhecia pessoalmente ninguém que fosse da minha nova religião, e para completar, eu era e sou muito tímida, não queria entrar em uma mesquita e falar "olá, eu me reverti ao Islam, e agora o que eu faço?"

Ao longo da minha pesquisa febril sobre o Islam depois que eu comecei a ler o Alcorão, eu encontrei inúmeros sites e blogs, escritos por irmãs que hoje em dia eu me sinto abençoada por serem sim minhas amigas, mas um blog sempre me chamou a atenção, porque era escrito por uma mulher que usava algo que me chamava muita a atenção, um niqab! Ela usava niqab e chador, e isto me deixava impressionada!

Eu permaneci sozinha durante um tempo. Pesquisando e praticando, eu aprendi sozinha a fazer as minhas orações e passei a rezar todos os dias, 5 vezes por dia. Finalmente encontrei o meu primeiro hijab, um lindo hijab tipo shayla retangular preto com bordas em fios de prata, diferente, grande, de excelente trama, pashmina indiana, que tenho até hoje e sempre foi o meu hijab predileto.

Depois comprei outros, e comecei a treinar a colocação do véu assistindo aos vídeos da irmã Falastin, no seu blog Fay Z, foi com ela que eu aprendi a colocar o hijab!

Roupas propriamente dito, foram uma grande dificuldade no começo, e eu acho que toda mulher que se reverte ao Islam passa por esta dificuldade, porque não temos uma loja sequer de roupas islâmicas no Brasil. É certo que desde a minha Shahada, já melhorou muito porque temos hoje várias irmãs que vendem roupas apropriadas, abayas, niqabs, hijabs de vários modelos e cores, e até chador.

Mas para quem não conhecia ninguém, como eu, era uma grande dificuldade. Decidi optar por batinhas e saias indianas, mas eu queria mesmo era conhecer uma mesquita! E eu simplesmente não sabia o que fazer, me sentia perdida!

Muitas vezes eu pensei "Como seria bom se eu tivesse uma amiga muçulmana! Para poder conversar, compartilhar este meu momento, para ter companhia para ir à mesquita, uma amiga que tivesse algo em comum finalmente comigo agora!"

Eu continuei a escrever no Livro das Sombras, e um dia, para minha surpresa, a Halima escreveu para mim!

Eu confesso que derramei lágrimas quando recebi o que ela escreveu, se oferecendo para me apresentar a Mesquita do Pari, e agradeci a Allah por isto! Eu não conhecia ela, e na hora não associei ela à moça de niqab que escrevia o blog, só depois fui perceber que era ela! A Halima do blog Diário de Halima! Que tantas vezes me fez viajar para outros lugares em saborosas leituras, mas o fato é que aceitei o convite na hora, e comecei a esperar ansiosamente pelo dia em que pela primeira vez eu estaria em uma mesquita, e conheceria uma irmã no Islam que acreditava nas mesmas coisas que eu.

A Halima foi a primeira irmã que eu conheci, me lembro que eu estava muito nervosa e tímida porque sou de fato tímida, no sábado em que eu pisei pela primeira vez na mesquita que se tornaria a minha mesquita tão querida e amada como é hoje.

Com o endereço em mãos, eu entrei na rua andando devagar com o meu carro, procurando localizar a mesquita. Então eu achei a mesquita, procurei uma vaga para estacionar, subi a escada da frente e ia entrando quando eu percebi que ali não era o lugar, eu estava entrando no salão reservado aos homens da mesquita.

Na porta da frente, dois irmãos me observavam, eu os cumprimentei toda sem jeito e disse que era a primeira vez que estava ali, então eles me indicaram o elevador e o primeiro andar, que era o andar reservado para as mulheres.

Eu agradeci e subi, estava retraída e tímida, não sabia o que iria encontrar ali.

O elevador abriu e não havia ninguém! Eu entrei e encontrei uma ampla sala com sofás e cadeiras, uma mesa no fundo com uma intrigante caixa preta que se parecia com um grande estojo de guitarra porém maior ("o que será que é aquilo ali?") e uma porta ladeada por duas janelas de vidro que davam para um salão acarpetado, o salão de orações para mulheres.

Tudo estava calmo, e muito agradável, eu não me atrevi a entrar no salão de orações porque não sabia o que teria que fazer e eu queria fazer tudo certo, e de repente uma paz muito grande invadiu o meu coração, uma sensação de calma e tranquilidade que eu nunca mais esqueci, intensa, forte.

Depois de um tempo, o elevador abriu, e a Halima apareceu com um sorriso, me perguntando se eu era a Gisele, eu disse que sim.

Começamos a conversar, e nunca mais paramos!!! Até hoje continuamos a nossa conversa, Alhamdulillah!

Ela me apresentou toda a mesquita, me ensinou muitas coisas, eu voltei para a casa com um sorriso imenso no rosto, feliz da vida e com a certeza de que acabava de ganhar uma nova e querida amiga de verdade! Algo muito valioso para mim...

Então foi a Halima que me extendeu a mão, e hoje eu procuro sempre fazer isto com todas que me procuram, querendo conhecer a mesquita, porque esta foi uma grande lição!

De lá para cá, muitas coisas vivemos juntas, eu aprendi muito com ela, e tentei ensinar também aquilo que eu sabia e que era necessário para ela, é como ela mesma disse um dia, tem vezes que eu sou a irmã mais nova e ela é minha irmã mais velha que nunca tivemos, tem vezes que é o contrário, eu é que passo a ser a mais velha...

Foi com a companhia da Halima que eu me tornei uma munaqaba, e isto eu vou contar em um outro post mais para frente, mas basicamente foi com ela que eu comecei a usar niqab, e nunca mais parei também.

Eu agradeço a Allah todos os dias por esta amizade tão preciosa e única para mim, porque grande de fato não é quem diz que é isso ou aquilo, ou quem julga as pessoas e pensa que tem este direito em vez de Allah, mas sim quem tudo faz com o coração como ela, quem tem a coragem de fazer de fato, quem tem a modéstia real estampada em sua vida, e ama de fato a Allah!

Que Allah te abençoe sempre, minha querida amiga e irmã!

Salam!

ANTES DA LUZ - Transcrição do "Livro das Sombras" - "O que de fato está acontecendo e o que há aqui"


Este texto foi escrito no Livro das Sombras, em um domingo, no dia 17 de outubro de 2010, dois dias antes da minha Shahada.

Eu estava em plena ânsia febril por estudar o Islam e decidi comprar um hijab para experimentar. Como eu nada sabia e nada conhecia, esta busca se tornou uma verdadeira "epopéia" que acabou entrando em paralelo com a busca dentro de mim e culminou com a minha Shahada, quando coincidentemente eu acabei encontrando o meu primeiro hijab.

Foi só eu fazer a minha Shahada, que ele apareceu na minha frente em uma loja...

Eu vou transcrever aqui três textos do Livro das Sombras, este que é antes da minha Shahada, o texto do dia da minha Shahada, e o primeiro texto escrito depois que eu me tornei muçulmana...


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"Estou escrevendo um post para dizer que não há aqui o uso alegórico ou fantasioso do véu.
Porque é verdade que hoje encontramos em todos os lugares por onde olhamos o véu usado por inúmeros outros motivos que não são os motivos que existem no uso do véu de fato.

Isto começa a me incomodar um pouco, mas não cabe a mim o julgamento, nem tampouco a condenação. Não escrevo isto para apontar o que é o erro e o que é o certo, quem sou eu para fazer isto, eu sou apenas uma mulher, e sempre sempre apenas uma aprendiz, mas quero deixar isto de forma clara, aqui não há alegoria, aqui não existe a expressão de uma fantasia.

Se estou escrevendo sobre minha busca pelo hijab, se coloco aqui e nos meus perfis fotos em que estou usando o véu, é porque isto é sério, merece de mim o respeito que sempre procurei ter comigo mesma, com todos, com tudo, é porque é novamente verdade, e não alusão.

A única alusão que pode ser feita em minha busca pelo meu primeiro hijab, é a alusão à busca interna que está acontecendo em mim, ou melhor dizendo talvez ao encontro que está acontecendo, mas aqui é verdade, e engana-se aquele que vem a este meu canto procurando a satisfação de suas próprias fantasias, porque elas não são minhas, são daquele que as busca, e por engano quer encontrá-las entre a minha verdade.

Engana-se aquele que olha também para este meu blog com olhos de superficialidade, ou com leviandade, este vai se decepcionar, e provavelmente nada entenderá, porque sempre há oceanos profundos e recantos vibrantes quando tentamos ao menos a sinceridade em si mesma, mas é preciso calma e profundidade do olhar para saber encontrar e de fato enxergar.

Hoje sou novamente aprendiz. Humildemente sempre me vejo assim. Confesso que estou de fato caminhando a passos largos, porém pensados, passos firmes porém ritmados, encantada que estou com as dádivas que recebo porém consciente do fato de que ainda não me sinto pronta para dizer que sim, eu sou uma mulher muçulmana.

Mas estou caminhando na estrada que eu considero certa para me sentir pronta, dedico o melhor de mim à este momento, como de fato sempre procurei dedicar, então o momento é novamente de intensa e profunda mudança e transformação em minha vida, como isto foi acontecer?

Eu sei! Ou pelo menos eu tenho as pistas para entender o que está acontecendo comigo. Porque eu estava morta! Morta de fato, de morte nascida e de morte matada, mas renasci!

E depois do torpor dos primeiros dias de Sol em minha existência, veio a paz, e a maturidade, é quando de fato sentimos que tudo, tudo mudou! É o que de fato aconteceu comigo.

Com a serenidade vieram novos anseios, novas necessidades de aprendizagem e de vivência, e eu que sempre tive a coragem de caminhar caminhei, estou caminhando, não me vanglorio disto, engana-se quem pensa que isto me faz melhor, ou elevada perante outras pessoas, pois este não sabe que antes de tudo eu tive de ser assim para estar viva até hoje, questão que foi de sobrevivência e não de virtude, se é virtude não sei, só sei que é por isto que agora estou viva, só sei que é por isto que não há mais morte em mim.

Então é assim, se agora apareço de véu é porque é legítimo, não é fantasia, que isto fique bem claro!

É porque, a estas alturas, talvez pelo que acredito eu já possa ser considerada de fato uma muçulmana, apenas não me considero pronta para me nomear assim. Ainda não dei meu testemunho, humildemente digo a mim mesma que não estou pronta, estou me preparando com respeito e dedicação, e assim que estiver pronta de fato eu farei.

Antes disto, não vou usar da palavra! Não vou me expressar em cumprimentos, não vou pendurar em mim um título e agitar ao vento como bandeira para chamar a atenção, eu não sou assim! Não é isto que me interessa, não é isto que me traz sempre aqui.

Não faço também da mudança motivo para desmerecer ou diminuir tudo o que eu já vivi. Aqui também não há hipocrisia de minha parte, apenas a sinceridade que sempre procurei ter acima de tudo comigo mesma, a tentativa verdadeira de traduzir em palavras a minha alma e meus sentimentos, os passos dados de meu caminho, apenas isto e nada mais.

É o que está acontecendo, é o que há aqui..."
São Paulo (SP), 17 de outubro de 2010.

E a Música?


Eu quero parar para estudar árabe mas quando o "bichinho das palavras" começa a falar no meu ouvido eu não consigo ficar quieta até que escreva tudo o que preciso escrever!

Eu preciso escrever!

É uma necessidade vital para mim, criar, me comunicar, algo que faz com que eu me conecte ao mundo e me expresse da maneira que eu sei fazer, que é escrever...

Hoje eu quero falar de um tema que me foi pedido e eu não vi. =S

Só depois que eu vi este pedido no meio dos meus scraps no orkut, foi a Mauren quem me pediu para falar sobre isto e eu vou aproveitar o pedido e fazer uma espécie de mix de post!

Vou falar sobre a música no Islam, para isto vou citar um post da minha querida irmã e amiga Habibah Ibrahim em seu excelente blog O ISLAM É..., e já que estamos falando sobre a minha reversão nos últimos dois blogs, falar um pouquinho também sobre algo que foi marcante e importante demais para mim durante 20 anos da minha vida, e como tudo isto ficou para trás por conta de uma nova identidade, existência pessoal, e social. De fato uma nova construção...

Em primeiro lugar, vamos conceituar a música dentro do Islam, e para isto eu vou citar as mesmas citações da minha querida irmã Habibah.

A música, segundo os conceitos islâmicos e segundo o ideal de vida islâmica, não é recomendada.

Muitos Sheikhs e sábios devidamente habilitados para tal, dão a interpretação de que ela é mesmo proibida!

Interpretação? Interpretação do que?

Interpretação do Alcorão, a Mensagem de Allah para toda a humanidade revelada através do Anjo Gabriel para o Profeta Muhammad (saws), e da Sunnah, os ditos e feitos do Profeta (saws). Porque em ambos os casos, há citações referentes à esta proibição ou mesmo não recomendação. E no Islam, são os sábios, os Sheikhs, os estudiosos que têm a habilitação necessária para dar a interpretação sobre isto. A explicação é simples, eles estudam no mínimo 8 anos (eu disse no mínimo) para isto, são realmente habilitados para tal tarefa.

Vejamos as citações, coladas do post da minha querida irmã:

“E, dentre os homens, há quem compre falsas narrativas, para, sem ciência, descaminhar os outros do caminho de Allah…” (Qur’an 31:6)

Sobre o comentário deste verso, Ibn Baaz (raw) disse: “’Falsas narrativas’ refere-se à música e coisas relacionadas com ela”.

"'E provoca/seduz, com a tua voz, aqueles que puderes, dentre eles; aturde-os com a tua cavalaria e infantaria; associa-te a eles nos bens e nos filhos, e faze-lhes promessas! Qual! Satanás nada lhes promete, além de quimeras'. (Qur’an 17:64)

A frase: 'E provoca/seduz, com a tua voz, aqueles que puderes…'  foi comentada pelo Imam Mujahid: 'A voz refere-se a música'. (Ruhul Maani)

O Profeta (sws) ainda menciona: 'A música cresce hipocrisia no coração tal como água faz crescer a colheita'.

Então,aqui está a prova concreta que a música é sim proibida no Islam.O único instrumento que é permitido é o 'daff' ,mas ele só pode ser usado em ocasiões especiais,como Eids e casamentos."

Porque? Porque a música leva à perda de tempo, porque a música é recheada de comportamentos letras e gestos inadequados hoje em dia, traz em geral letras ilícitas que falam de sexo, perdição, depravação, consumo de drogas, orgias, suicídio, malícia, violência...

E quando não fala sobre isto? Aí depende, muitas vezes uma música instrumental pode levar a pessoa a desenvolver sentimentos, muitas vezes uma música pode paralizar a pessoa fazendo com que ela perca tempo em sua vida, muitas vezes uma melodia pode ser o instrumento do shaytan para desviar a atenção da pessoa e seu comportamento.

Eu não critico aqui quem defende que tá ela não é recomendada mas pode ser ouvida com muito "filtro" e atenção no que se ouve, e eu não estou dando a minha opinião mas sim escrevendo sobre o que diz o Islam sobre a música.

Agora, eu fui "radical" em minha vida, eu só ouço nasheed.

Nasheed é música vocálica, portanto sem instrumentos melodiosos, em geral contando apenas com percurssão mas muitas vezes nem isto, com arranjos apenas de voz humana, masculina em sua grande maioria, com temas lícitos e religiosos.

Se você está lendo o meu blog, você certamente está ouvindo nasheed neste exato momento, porque toda a trilha sonora do meu blog é composta exclusivamente de nasheed. Além de nasheed tem recitações do Alcorão e o Adham, o canto de chamado para as orações.

E isto é algo impressionante de se constatar, porque durante mais de 20 anos a minha vida foi dentro da música! Eu ouço heavy metal desde pequena, e acabei desenvolvendo um apurado e seletivo gosto musical, também eclético, indo de Pagannini à Mutantes, de Egberto Gismonti à Paco de Lucia, de Yes à Black Sabbath.

Além disso, eu já toquei guitarra! E durante muito tempo! Então a música era a minha vida!

Foi difícil deixar a música? Olha foi sim! Não foi fácil não, mas a minha sorte é que eu me apaixonei por nasheed, então substituí a minha necessidade de ouvir música por nasheed, e eu consegui fazer isto, o que parecia impossível!

Eu me lembro agora de um dos inúmeros mails que eu troquei antes da minha reversão com a irmã Marian, do blog A Mulher no Islam, uma irmã a quem eu serei eternamente grata porque ela me ajudou muito, eu nada sabia e ela se prontamente me ofereceu ajuda para esclarecer as minha primeiras dúvidas sobre o Islam, e em um de seus preciosos mails para mim ela me disse uma frase que só depois eu entenderia:

"Eu nunca pensei que seria capaz de abrir mão de coisas das quais abri mão por causa do Islam!"

Pois hoje eu repito esta frase, eu nunca poderia imaginar que um dia eu abriria mão totalmente da música como eu abri mão, por causa do Islam. Digo de ouvir música, porque muito antes eu já havia parado de tocar, desde que comecei a minha faculdade.

Então eu acho que é assim: cabe apenas a Allah o julgamento, e Ele conhece o coração e as intenções reais de cada um de nós melhor do que nós mesmos. Existe a orientação à respeito disto, e a interpretação desta orientação, eu não ouço, tem muitos irmãos e irmãs sim que ouvem, não sou melhor do que eles e eles não são melhores do que eu, convivemos pacificamente com esta questão, apenas eu sigo esta orientação, e outras pessoas já ponderam que a música não sendo ilícita pode ser ouvida.

Espero que o post seja útil e traga conhecimento inshallah!

Salam! =)

Caminho Novo


Este é um post "atendendo a pedidos" já que muitas pessoas gostaram de ler sobre a minha reversão ao Islam, e me pediram para falar mais sobre isto. Fico muito feliz porque todas as pessoas que lêem o meu blog e me escrevem são especiais para mim, que Allah abençoe a cada um de vocês!

Eu costumo dizer que uma coisa que me emociona muito em minha singela história de vida é o fato de que percebo e sinto de forma muito nítida, forte e diria até física, a intevenção e condução de Allah em minha vida, porque só a Ele cabe o conhecimento do porque de eu estar ainda viva. E só por Allah estou viva ainda, não só porque ele é O Senhor dos Mundos, o Criador da vida e de todos os seres, como também só por Ele eu permaneci viva até hoje, e inteira, plena, saudável de corpo, e de mente.

Mas eu não tinha esta visão, esta consciência do que de fato aconteceu comigo. Esta visão, esta noção, esta certeza e esta consciência eu só vi em minha vida, quando eu li o Alcorão, pela primeira vez na vida, antes da minha Shahada. E isto me deixou chocada! Chocada e impressionada! Impressionada e emocionada.

Como isto aconteceu? Aconteceu porque à medida que eu fui me aprofundando no Livro, as palavras de Allah me levavam a refletir sobre o mundo, sobre a vida, sobre a minha vida, sobre eu mesma.

O primeiro grande impacto na leitura veio quando eu li a seguinte frase:

"256. Não há imposição quanto à religião, porque já se destacou a verdade do erro. Quem renegar o sedutor e crer em Deus, Ter-se-á apegado a um firme e inquebrantável sustentáculo, porque Deus é Oniouvinte, Sapientíssimo." (Surata 2 - Al Bakara - 256)

Isto foi impressionante! Eu nunca havia lido algo desta magnitude em um texto religioso, não existe nada comparável a isto em lugar nenhum! E a sinceridade e sutileza destas palavras me fizeram ver que aquilo era muito sério e digno de confiança, só podia ser inspiração de Deus, foi certamente um grande choque.

Foi quando eu comecei a me emocionar com o Alcorão, e à medida que eu ia lendo, eu ia revendo tudo à minha volta, a minha história, a vida, as pessoas, o mundo. Nas pausas eu não conseguia ficar sem pensar, pensar, pensar... Até que, em uma noite, sentada na minha cama, pensando sobre as coisas que eu estava descobrindo, eu consegui me deslocar para fora da minha história, e ver ela como se estivesse vendo de fora, foi uma sensação de estar sobrevoando o caminho da minha vida, e foi então que, só aí, eu pude compreender as pedras soltas do calçamento da estrada, como eu havia sido protegida, e preservada, o modo como eu fui guiada, mesmo à revelia em alguns momentos, pois sou teimosa e muitas vezes Allah colocava a porta de saída ou a ponte para atravessar a enxurrada bem na minha frente mas eu não a enxergava e ainda por cima brigava com a vida! Mas mesmo à força, Ele me fazia atravessar a ponte, e passar pela porta...

Então eu tinha momentos de choro copioso, por emoção, por gratidão, por estar viva! Era uma sensação de quase morrer afogada, e de repente conseguir se soltar, voltar à superfície, e respirar aliviada.

Quando eu estava ferida, meu sangue foi estancado, quando eu precisei romper com conceitos aprendidos e que estavam errados, me barrando, Ele me fez me sentir rebelde! Quando eu teimosa fechei os olhos, Ele me guiou pela escuridão da Noite Tenebrosa! Quando eu andei entre chamas e pisei em ferro em brasa, mesmo assim não fui marcada, não fui queimada.

Sobretudo quando eu fui esfacelada em cacos no chão, Ele me encontrou destruída, juntou meus cacos, e recriou com eles não o mesmo jarro, mas sim um lindo mosaico.

Este foi o principal motivo da minha reversão, a certeza nítida e forte da intervenção de Allah em minha vida, a restauração verdadeira de vida, depois a paz, e quando eu estava em paz, Ele me levou ao conhecimento do que havia de fato acontecido ao longo de todos os anos de dor, e me conduziu finalmente ao lugar certo, ao Islam!

E depois disto, veio a paz!

Não veio sobre mim a rejeição por parte dos que me cercam. Por conta de toda a minha história, muitas pessoas ficaram felizes por eu me tornar uma muçulmana. Em especial, ao menos aparentemente, a minha mãe, que por sinal é católica e praticante da religião.

Eu me lembro de uma frase dela que ficou marcada em minha mente. Um dia em uma conversa comigo ela me disse "Ao menos agora eu posso falar para você ficar com Deus, e você não vai achar ruim!" rs...

Porque sendo sincera, antes do Islam eu não era cristã, eu era uma bruxa!

Bruxa??? =O

Sim sim, uma bruxa, eu era uma pagã, como eu disse no post anterior, um dia eu pequena e tola briguei com Allah, por todas as minhas dores, por todos os horrores pelo qual passei. E desde então, eu praticava Wicca, e negava a fé em Deus. Hoje eu sei, era pura pirraça, porque mesmo dentro da Bruxaria, eu sempre fui monoteísta, e por isto não conseguia me entender com outras pessoas que seguiam a mesma religião.

Desde aquele dia lindo em que eu fiz a minha Shahada, muita coisa mudou para melhor na minha vida, eu aprendi sobre ter paciência, eu consolidei a paz dentro de mim, minha relação com a minha mãe melhorou muito, eu aprendi sobretudo a sorrir com os olhos... e esta foi uma grande lição!

Salam!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Caminho Percorrido


Eu acho que todas as pessoas têm uma história magnífica e para contar. Porque a história de cada ser humano é sempre um livro novo, nunca antes escrito, e nunca mais editado.

Por mais que a visão às vezes superficial que lançamos sobre o outro tente negar a ocorrência única daquela história, no fundo no fundo não existem duas histórias de vida iguais, não existem dois caminhos com o mesmo traçado.

Sim sim, temos similaridades, mas sempre há a particularidade a diferenciar uma pessoa de outra, e assim também é a sua história.

Somos todos iguais na diferença, e diferentes dentro de nossas igualdades.

Uma pessoa não é superior à outra em nada no fim de todas estas histórias! Todos nós teremos invariavelmente, o mesmo fim...

Assim é também comigo, não sou melhor do que ninguém, nem pior, sou igual, porém diferente, e a minha história pode ter suas particularidades como tem sim, mas no fundo no fundo é exatamente igual à outras histórias.

Aproxima-se uma importante data para mim, o aniversário de 1 ano da minha reversão ao Islam.

Sim! 1 ano! Surpreendeu-se ao ler isto? Eu desconfio que sim, já que eu mesma já presenciei a surpresa estampada no rosto de algumas irmãs e irmãos, e amigos em geral, quando eu falo isto, não sei porque, mas acontece, eu ainda não tenho 1 ano completo de Islam. Terei 1 ano completo no dia 19 de outubro que se aproxima, porque eu fiz a minha Shahada no dia 19 de outubro de 2010.

Um dia lindo, único e inesquecível para mim. Uma linda e calma tarde ensolarada em que eu abri a janela do meu quarto, que é voltada para a direção de Makka e, observando a luz que inundava a linda vista da cidade que eu tenho a benção de ter, um dia dourado, que dourava toda a cidade, todos os prédios, toda a paisagem, então as lágrimas inundaram os meus olhos, e eu com muito amor e certeza em meu coração, pronunciei o meu testemunho de fé:

Ash hadu an la illaha ilah Allah, wa ash hadu anna Muhammadan hasulullah

Foi um momento único em minha vida, um divisor de águas, um ponto de chegada, e um ponto de partida, o novo nascimento para uma nova e plena vida.

Desde então eu nunca mais fui a mesma, a minha história tomou novo rumo, e muitas coisas aconteceram comigo ao longo do caminho até aqui.

Como eu cheguei até aqui? Eu sei, e não foi um caminho curto nem tampouco fácil de se caminhar... mas me dou ao direito de não mais as pedras pontiagudas deste caminho contar, eu já as contei muito, cada vez que as contei me cortei novamente e sangrei, agora eu não preciso mais fazer isto, agora eu não preciso mais me cortar.

Mas basta dizer que eu estava morta, sangrando e ferida de morte nascida e de morte matada, quebrada em um canto de mim mesma a agonizar.

Basta dizer que um dia eu fui pequena o suficiente para brigar com Allah, e tudo negar, entorpecida pela dor, e também pela vida banhada em entorpecentes que eram naqueles negros dias a anestesia que me dava a ilusão de suportar tudo aquilo.

E foi neste gancho, nesta curva, neste instante, que Allah cuidou de mim! E curou as minhas feridas como alguém que cuida de frágil ave em situação delicada, me deu de beber e de comer, restaurou a minha vida, me fez reerguida e pronta para sentir a verdadeira paz dentro de mim.

Quando eu estava pronta, quando eu estava curada, viva novamente, só depois que eu estava novamente restaurada, não mais morta nem de morte nascida, e nem de morte matada, só depois disto, no momento certo, é que eu fui conduzida ao Islam.

Uma noite, navegando pela internet, eu achei um site que ensinava a língua árabe, e fiquei encantada! Foi como achar a ponta partida do fio da minha vida, porque o Islam, e a cultura árabe, duas coisas diferentes, sempre estiveram presentes em minha vida.

Eu vi um filme na minha frente, me lembrei do meu pai que já havia falecido, dos deliciosos pratos da culinárias árabe preparados com tanto carinho pela minha mãe, me lembrei da Mesquita Brasil, sempre presente em minha visão de criança, eu me lembrei de Malba Tahan, do meu "tio" turco, do apreço que todos estes elementos criaram em mim pela estética islâmica, pela arte e cultura, pela linguagem enfim!

Esta "influência", eu carreguei por toda a minha vida, em tudo que fiz, em tudo que criei ao longo do tempo, desde desenhos da minha infância até melodias e escolhas pessoais, mesmo quando eu não percebia conscientemente, eu sempre escolhia e selecionava elementos que tinham esta influência como tema.

Achar aquele site no momento certo da minha vida foi um grande achado, e eu resolvi aprender finalmente a falar árabe.

O site era ótimo, prático, fácil! Era um site em inglês, mas com uma organização e método de ensino funcional e empolgante. Em pouco tempo eu já estava sabendo ler as letras do alfabeto árabe clássico, e isto me deixou animada.

Tão animada que eu comecei a me arricar em leituras, e foi quando eu me lembrei do Alcorão, eu nunca havia lido sequer uma passagem do Alcorão! Para mim era um livro misterioso, e isto já tinha em si dois elementos que me atraiam: o fato de ser um livro, porque eu sou apaixonada por livros desde pequena, e o fato de ser desconhecido para mim, o que atiçou a minha curiosidade...

O que eu já havia lido à respeito do Alcorão? Eu sabia que ele era escrito em forma de poema, que era um livro altamente refinado em termos literários, sabia também que ele era considerado sagrado para mais da metade da população do mundo, mas basicamente era só isto que eu sabia.

Por conta da minha criação, sempre recheada de diversos elementos culturais, eu e os meus irmãos nunca tivemos a contaminação danosa do preconceito. Então eu não sofria de preconceito contra o Islam, e contra os muçulmanos.

Eu confesso que sim, aí sim, para mim eles pareciam ser "um povo estranho"! Mas esta sensação existia, e eu sabia, porque eu simplesmente não os conhecia!

Eu tinha contato com pessoas das mais diversas religiões, nacionalidades, e origens. Tinha contato com mormons, com evangélicos, com judeus! Tinha contato com brasileiros, com portugueses, norte-americanos, ingleses, espanhóis, alemães, mas nunca na minha vida eu havia conhecido uma pessoa de origem árabe! Nunca, e muito menos alguém cuja religião fosse o Islam, eu realmente não conhecia.

Eu conhecia as mesquitas, eu conhecia a estética, eu conhecia as comidas, eu conhecia Malba Tahan.

Eu tinha um "tio" que era turco, isto é verdade, mas ele não era árabe. E muito menos muçulmano.

Eu sabia apenas que era uma religião talvez rígida, e eu sempre ouvia falar dos "xiitas", e o quanto eles eram radicais! Hoje eu penso o contrário, mas não vem ao caso ainda.

Então eu decidi que deveria ler o Alcorão. E comecei a procurar algum site onde eu pudesse ler o mesmo, já que eu não sabia nem por onde começar a procurar o livro para comprar, eu nada sabia até então.

E foi assim que, depois de um bom tempo de pesquisa, eu encontrei um site confiável que oferecia a possibilidade de se ler o Alcorão sem ter de baixar o livro pela net. E foi então que tudo mudou na minha vida novamente.

Eu fui arrebatada pelo Livro, inúmeras passagens me deixaram espantada e surpreendida, mas eu quero falar aqui de duas delas:

A primeira foi quando eu li a frase: "...E já não há mais a obrigação da Religião, já que a verdade já foi revelada..."

E a segunda passagem foi justamente a 13ª Sutara, a Surata do Trovão!

No dia 19 de outubro, depois do impacto de rever toda a minha história de vida segundo um ângulo que eu nunca havia visto antes, depois de lágrimas de emoção derramadas, depois de meses de pesquisa intensa e constante por textos e informação, depois de tudo, depois de morrer e renascer tantas vezes na vida, eu olhei para o céu daquela tarde ensolarada, e pronunciei a minha Shahada...

Foi assim, um momento único para mim.

Eu escrevi muito naquela ocasião, hoje estava relendo alguns textos, talvez eu os reproduza aqui neste meu cantinho, já que eu não tinha ainda este blog e eles não foram escritos aqui.

Esta é a minha história, ou melhor dizendo uma parte da minha história, é verdade, mas esta parte é a parte que definiu tudo, resignificou o que eu fui, decidiu o que eu sou, e projetou o que eu serei daqui para frente.

Allahu Akbar!