segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

19/02/32 A.H. (23/01/11) ISLÃ: ARTE E CIVILIZAÇÃO – A MOSTRA, E A EXPERIÊNCIA...



Fui à mostra ISLÃ: ARTE E CIVILIZAÇÃO em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo no domingo, dia 19 de Safar de 1432 AH (23/01/11) e gostei. Gostei muito!
Mas foi um dia tão intenso, tão repleto de fatos interessantes, que eu nem sei se cabe tudo em um tópico só. Eu vou tentar condensar tudo em apenas um tópico, mas se não der, divido em dois, porque tem duas coisas a serem narradas: a Mostra em si, e a Experiência que realizamos, duas coisas distintas, mas que se fundiram.
Eu havia convidado uma de minhas filhas para me acompanhar, mesmo antes da Mostra entrar em cartaz no CCBB, e ela esperava este passeio com grande ansiedade.

Mas eu também desejava ir na companhia da Halima, minha amiga e irmã querida, e no fim se juntou ao nosso grupo outra irmã, a Priscila, que eu conheci neste mesmo dia, amiga da Halima. Além de nós, estavam presentes também o marido e o filho da Halima, um ótimo grupo, o que por si só já prenunciava um passeio muito agradável, tanto quanto todos os presentes, e todos com a exceção da minha filha que “ainda” não é muçulmana (Allah sabe mais e me sentirei honrada se ela manifestar a vontade de se reverter), embora demonstre gostar muito do Islam e da língua árabe, são muçulmanos.
Passeio combinado, recebi um telefonema da minha amiga querida, dando conta de que a irmã que nos acompanharia já usava algumas vezes niqab e qimar, e ela me convidou então para fazermos uma experiência na ida à Mostra, irmos as três de niqab e véu inteiro, ela e eu de chador (na verdade o nome é outro mas é como um chador ou enfim, o véu inteiro que cobre da cabeça aos pés) e a Pricila de qimar, as três de rosto coberto pelo niqab. Eu fiquei muito feliz com o convite, porque tenho sincero e real desejo de adotar de vez o chador e niqab e me cobrir inteira. E assim fizemos. E este detalhe fez do dia mais especial ainda, porque não se vê nas ruas de São Paulo, e nem no Brasil, com certa facilidade, muçulmanas cobertas desta forma, em especial com o rosto coberto. Fomos lá ver o que aconteceria e qual seria a nossa reação e a reação do mundo à nossa volta, hoje pensando bem foi sim um ato de coragem, mas principalmente de imposição pacífica, afinal somos muçulmanas, temos o direito de nos cobrir, não?
Fui para a casa da minha querida amiga, com a minha filha, e de lá saimos para nos encontrar com a Priscila. Lá nos vestimos e saímos, um pouco receosas, é certo, porque nunca sabemos o que pode acontecer, infelizmente muitas pessoas ainda não entendem de fato o Islam no Brasil, e embora a verdade seja de que o brasileiro em geral respeita a nossa religião e tem curiosidade por conhecer mais sobre o Islam, sabemos também que existem pessoas mal intencionadas, ou preconceituosas, que demonstram péssimo comportamento e péssima tolerância social com o que é diferente do que ela ACHA que é a ÚNICA VERDADE ABSOLUTA...
Saímos da casa dela e fomos à pé, até a estação do metrô onde combinamos de nos encontrar com a Priscila, a estação não é longe, mas também não fica muito perto, o que nos rendeu um belo e agradável passeio.
Quando saímos na rua, eu senti que fomos logo olhadas pelas pessoas à nossa volta, mas eu estava serena e confiante, certa de minha intenção e coerência, nada naquele momento me faria recuar, nem mesmo uma eventual reação exarcebada por parte de algum transeunte, mas o fato é que este tipo de reação não aconteceu, ma sha Allah! Os olhares em geral eram mesmo de curiosidade, e respeito. Teve até um motorista que gritou com toda a força de seu carro em movimento “Assalam Aleikomm!” e pessoas que nos cumprimentaram no caminho!
Já perto da estação, passamos por um grupo de muçulmanas, provavelmente libanesas, moradoras da minha rua, não sei se fui reconhecida porque eu estava totalmente coberta, mas a minha filha não estava coberta e estava de mãos dadas comigo, elas olharam espantadas, acho que nunca esperavam encontrar muçulmanas vestidas daquela forma em plena São Paulo. Ao passarmos por elas, o marido da Halima as cumprimentou e elas timidamente responderam.
Eu estava muito serena, e feliz, muito feliz! Por estar experimentando o tipo de vestimenta que até então tinha apenas a intenção de usar, mas nunca havia sequer experimentado. Eu estava usando o meu niqab, mas o chador era emprestado da Halima, já que ainda não tenho o meu (eu quero o meu chador =(... buááááá!!) e também estava me sentindo muito confortável, muito mais do que pensava que me sentiria.
Nos encontramos com a Priscila no metrô, também integralmente coberta, e fomos então à Mostra...
O centro de São Paulo estava tranquilo, e o dia estava realmente lindo, com céu azul, calor mas sem exagero até ali, um belo dia de domingo, realmente um belo e agradável passeio. No metrô e nas ruas, todas as atenções eram para nós. As pessoas olhavam ao nos ver, com um espanto inicial e posteriormente com curiosidade. Perto do prédio do CCBB, duas moças passaram por nós comentando que talvez fôssemos “da” exposição, rs... como se fôssemos atores ou performers.
O prédio do CCBB SP, que já é lindo por si só, estava mais bonito ainda para a Mostra! No saguão de entrada, foi instalado um piso circular com motivos islâmicos que continha no centro um lindo e singelo chafariz, também em motivos islâmicos. Ao chegar, notamos que ele estava cheio de... moedas! Sim moedas, não sei porque mas o povo resolveu jogar moedas dentro da água!

Entramos, e todos nos olharam, fiquei imaginando quanto daquelas pessoas pensaram que se tratava de uma família completa rs... devido ao estereótipo que existe no Brasil sobre nós, muitas pessoas ali devem ter imaginado que nós três éramos esposas do marido da Halima, e as crianças eram os filhos. Na verdade por conta disto eu já imaginava que quem mais teria de demonstrar coragem mesmo era ele, já que as pessoas poderiam ver nele “o opressor” que obriga “suas esposas” a se cobrirem daquele jeito! “Que horror” rs...
Para quem não sabe, lembrando aqui que:
  1. Dentro do Islam como deve ser mesmo, original, sem invenções nem “poluições” de coisas ilícitas, nós somos respeitadas e temos voz e direitos, e não somos obrigadas a nos cobrir e usar véu e chador e niqab, nada disto, ao contrário, escolhemos isto! Requeremos este direito, tanto que nós três escolhemos fazer esta experiência, e tenho certeza de que passado o receio inicial, as três estavam muito felizes por estarem assim!
  2. Sim existe a possibilidade de um muçulmano ter até 4 esposas, não é que isto seja recomendado, mas permitido, e as razões para um casamento com mais de uma mulher são várias, certamente nenhuma delas tem a ver com lascividade ou desejo erótico. Só que este costume hoje em dia é muito raramente adotado, uma das razões é evidente! Vai ver o gasto que é sustentar uma família, imagina só duas, três, quatro!! Sendo que cada esposa tem de ter uma casa separada e só para si, e no mundo todo, o custo de vida é alto! Antes do Islam, os homens casavam-se com várias esposas, muito mais do que 4, e em geral abandonavam a maioria delas, o que causava sérios problemas sociais, materias, e emocionais. O Islam trouxe respeito a esta questão, e controle.
No fim das contas foi um dia muito agradável, a Mostra é ótima, a reação das pessoas foi realmente surpreendente, e ainda fomos à Mussala da Praça da República para fazer a oração do crepúsculo, um dia intenso, que terminou com uma chuva intensa sobre São Paulo.

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